O transporte marítimo responde por cerca de 3% das emissões mundiais de gases de efeito estufa. Foto: Roberto Venturini / Creative Commons
A decisão foi baseada num pedido da Arábia Saudita apoiado por Estados Unidos, Rússia e outros grandes produtores e consumidores de petróleo. “O adiamento mostra a força dos países petroleiros e enfraquece a IMO”, avaliou Mariana Andrade, coordenadora de Campanhas de Oceano no Greenpeace Brasil.
Especialmente os Estados Unidos pressionaram nações vulneráveis a tarifas e aliados estratégicos para minar o apoio que o acordo já tinha. A ofensiva inverteu uma aprovação parcial de abril, por 63 países, incluindo Brasil, China e Índia. A organização tem 176 estados-membros.
O governo Lula manteve um apoio com ressalvas à iniciativa: defende metas de descarbonização, mas rejeita uma taxação de carbono que possa penalizar exportadores de commodities agrícolas e minerais. “Isso reflete as contradições da política climática brasileira”, apontou Andrade.
“O Brasil tem se mostrado climaticamente ambicioso em fóruns internacionais, mas internamente toma decisões que vão no sentido oposto, como a abertura da nova frente de exploração de petróleo na foz do Amazonas”, disse. “Isso mina sua credibilidade às vésperas da COP30”.
Com o adiamento, empresas e portos devem rever planos para renovar frotas e adotar combustíveis alternativos, bem como buscar regras para reduzir riscos à competitividade, já que o acordo pode, num primeiro momento, aumentar os custos operacionais do setor.
Não por acaso, a prorrogação frustrou ambientalistas e países – sobretudo europeus – que defendiam a implantação imediata de uma taxa sobre os combustíveis fósseis marítimos. Para eles, isso é fundamental para que o setor neutralize suas emissões até 2050.
Mas o “pacote climático” empurrado para o ano que vem tinha mais propostas, como limites progressivos para cortar emissões, incentivos a combustíveis menos poluidores e um fundo para apoiar tecnologias de baixo carbono nos países em desenvolvimento.
Queimando principalmente óleos pesados que emitem gases de efeito estufa, outros poluentes e fuligem, o transporte marítimo responde por cerca de 3% das emissões globais de CO₂, volume semelhante ao da Alemanha. Também há vazamentos de metano e gases refrigerantes.
Contudo, a estimativa é conservadora, ressaltou Andrade. “O setor faz parte da cadeia do petróleo. Se considerarmos toda a extração, transporte, refino e uso do combustível, o impacto real é muito maior”.
Apesar das disputas políticas e dos custos, a crise climática exige ações rápidas e concretas de todos os setores, mesmo os de menor participação na soma das emissões. Cada atraso amplia o desafio e torna mais caro e difícil conter o aquecimento global.
Responsável por apoiar tecnicamente, aplicar e fiscalizar no Brasil as normas da Organização Marítima Internacional, a Marinha não atendeu aos nossos pedidos de entrevista até o fechamento da reportagem.
Fonte/Créditos: Aldem Bourscheit · 24 de outubro de 2025
Créditos (Imagem de capa): Foto: Roberto Venturini / Creative Commons


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