
A convivência com os pets ultrapassou o papel de simples companhia amorosa e leal. Hoje, eles também se tornaram aliados da medicina. A terapia assistida por animais (TAA) tem ganhado força pelo impacto positivo no tratamento de condições físicas e mentais, levando bem-estar, alegria e afeto a quem enfrenta períodos de internação ou processos educativos prolongados.
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Alexia Torres, também vivencia todas essas emoções como tutora voluntária. Dona da cadela Saphira, ela explica que, ao ver o contato dos animais com os pacientes, também sai impactada. "Eu fico muito emocionada, porque toda vez que saio daqui penso na felicidade que as pessoas sentem só de tocar, só de olhar. É uma coisa muito doida. Trazer esperança, um pouco de amor, é tudo muito especial. Gosto muito e me sinto bem, porque fico imaginando se fosse eu no lugar deles."
Segundo Josie Septimio, médica psiquiatra do Hospital Universitário de Brasília (HUB/UnB), os benefícios das atividades com animais ainda não são totalmente mensuráveis, mas o impacto emocional é visível. A especialista destaca que os pacientes aguardam com entusiasmo o dia da visita dos pets, que ocorre uma vez por mês, com o apoio do Instituto Brasiliense de Intervenções Assistidas por Animais (IBIAA).
"É um dia de lazer e de interação para eles. Ainda não conseguimos mensurar, de forma registrada, qual é o benefício clínico disso, mas percebemos no dia a dia o quanto faz diferença. Eu presencio essa expectativa e, quando chegam os cães, até pacientes que normalmente não interagem com ninguém se abrem. Eles se permitem pequenas interações, e isso é muito significativo. Ainda é algo inicial e não podemos chamar de tratamento, mas já vemos um resultado emocional muito bonito", explica a médica.
Preparação e segurança
Antes de cada visita a hospitais, os animais passam por uma preparação rigorosa para garantir a segurança e o bem-estar de todos. Isso inclui higiene, avaliação do comportamento e treinamento específico para lidar com diferentes perfis de pacientes. Cleres Bisol, tutora da cadela Bella, trabalha com cão terapia há 13 anos em Goiânia e realiza um preparo especial antes de cada visita.
"De três em três meses, a Bella doa sangue, então temos esse check-up. Nas 24 horas que antecedem as visitas, ela toma banho, não sai para a rua, só vai ao hospital, escovamos os dentes e usamos lenços umedecidos nas patas antes de entrar e depois que saí do hospital", conta Cleres.
Maria do Socorro Martins, tutora da labrador Cissa, reforça que a preparação dos pets inclui documentação completa, como registro veterinário e atestado de saúde com todos os exames e vacinas em dia. "A iniciativa, seguida de acompanhamento veterinário, ajuda a romper o preconceito de que o cachorro é sujo ou transmite doenças. Na verdade, eles transmitem muito amor e paz", afirma.
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Já a seleção dos bichos voluntários nas instituições é feita com muito critério. Segundo Socorro, tutora e psicóloga experiente, cada animal passa por etapas de avaliação antes de atuar nas visitas, então o tutor acompanha o cão aos locais de serviço, e depois os animais vão aos hospitais para que a equipe analise sua adaptabilidade. Cada cachorro é designado a tarefas específicas de acordo com sua capacidade de adaptação.
"Na escolha, existem critérios que não são negociáveis. O cachorro não pode latir excessivamente, precisa ser sociável com outros cães e com as pessoas, e atender a comandos básicos. Isso é fundamental para que ele possa atuar nas visitas com segurança", explica.
Ela complementa que os cães são expostos a estímulos semelhantes aos que encontrarão durante as visitas — barulho, crianças, cadeiras de rodas e outros elementos do ambiente hospitalar. A equipe observa a reação do animal e o acompanha de perto, garantindo que ele esteja confortável e saudável. "Tudo precisa ser bom, tanto para o tutor quanto para o animal. Caso contrário, ele não pode continuar nos projetos", reforça a psicóloga.
Também é importante destacar que, de acordo com o Instituto Brasileiro de Educação e Terapia Assistida por Animais (IBETAA), para que um animal seja considerado apto para atuar, é necessário que um especialista em comportamento animal emita um certificado após o bicho atender ao perfil desejado e passar com sucesso nos testes específicos.
Do abandono à terapia
Vira-latas resgatados também podem se tornar aliados do bem-estar e da melhora da saúde mental e física. A presidente da Fundação Bichoterapia, Ana Laura de Moura Moraes, defende que o principal objetivo da instituição é utilizar a TAA para integrar cães sem raça definida, muitas vezes esquecidos pela sociedade, na reabilitação, no cuidado da saúde e na socialização de pessoas com limitações ou que necessitem de apoio emocional.
"Queremos dar protagonismo ao vira-lata e mostrar seu valor. Ele não é inferior a um cão de raça e pode auxiliar muito, inclusive na saúde das pessoas", afirma Ana Laura.
A Fundação funciona em parceria com equipes multidisciplinares das instituições atendidas, que incluem médicos, psicólogos, terapeutas e outros profissionais da saúde. Enquanto esses profissionais definem os objetivos terapêuticos e acompanham os resultados, a equipe da Fundação conduz os cães, todos adestrados, saudáveis e higienizados, assegurando o bem-estar animal e a eficácia das interações.
"Esses profissionais nos dão feedback sobre como estão sendo as atividades, se precisamos mudar alguma interação ou deixar o cãozinho mais tempo com algum paciente. É graças a isso que temos tantos relatos de sucesso. Veterinários também integram o processo, garantindo a saúde dos animais e a segurança dos participantes, em um trabalho conjunto que alia ciência, cuidado e empatia", explica Ana Laura.
Em relação aos pets, a Fundação se destaca por treinar apenas cães resgatados. Os bichos são avaliados quanto ao temperamento, devendo ser calmos, sociáveis, dóceis e tolerantes a diferentes ambientes, barulhos e manuseios. Após serem selecionados, passam por um treinamento específico para se tornarem "cães terapeutas" por meio do adestramento positivo, sem punição, que os capacita a interagir de forma segura e positiva com os pacientes.
"Não basta apenas ser um cãozinho amoroso, há muito adestramento e dedicação por trás. Nossos peludinhos têm a saúde e o bem-estar constantemente monitorados por veterinários, incluindo vacinação, desparasitação, profilaxia dentária anual, e sempre tomam banho antes das visitas", assegura Ana Laura.
Ainda de acordo com a presidente da Fundação, os resultados observados têm efeito imediato e podem ser notados pelo aumento do bem-estar, da alegria e da motivação para a interação social. "Até os funcionários das instituições aproveitam aquele momento para descontrair e aliviar o estresse", acrescenta.
Mesmo com as emoções diárias das visitas e os benefícios medicinais, a Fundação enfrenta desafios. Por ser uma instituição filantrópica, depende de doações para custear transporte, cuidados e saúde dos cães terapeutas. Além disso, há desafios relacionados aos próprios animais sem raça definida, que, ao contrário dos cães de raça pura com séculos de seleção genética, são resgatados das ruas ou de abrigos e podem trazer uma bagagem emocional.
"O cão pode ter medos específicos, de homens, de sons altos, resultado de abuso ou experiências ruins, e precisamos trabalhar com esses traumas antes mesmo de pensar em torná-los terapeutas. Encontrar um cãozinho com nível inato de calma e confiança pode ser mais difícil do que em raças selecionadas para isso. Mas é maravilhoso ver esse trabalho na prática, porque não há ressentimento por parte deles, são seres muito puros, só tem gratidão e amor envolvido. O abandono ficou para trás ", conclui.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
Fonte/Créditos: Por Júlia Christine*
Créditos (Imagem de capa): (crédito: Divulgação/Bichoterapia)
                
                                        
                                        
                                        
                                        
                                        
                                        
                                        
                                        
                                        
                                        
                                        
                                        
                                        
                                        
                                        
                                        
                                        
                                        
                                        
                                        
                                        
                                        
                                        
                                        
                                                                                    
                    
                
                                                                            
                                                                                        
                                                                                        
                                                                                        
                                                                                        
                                                                                        
                                                                                    
                
                                                                                                        
                                                                                                        
                                                                                                        
                                                                                                        
                                                                                                        
                
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