Redação
Rondônia tem se destacado positivamente em várias áreas no Brasil, principalmente no que concerne ao agronegócio e, nos últimos anos, no cultivo do café, que é um dos mais premiados pela sua robustez e qualidade. Um fato interessante é que as produtoras rondonienses são as maiores responsáveis por esse destaque, enaltecendo o nome de Rondônia em concursos de renome, no âmbito estadual e nacional. Isso mesmo! Mulheres empreendedoras, capazes e de muito sucesso. Com todo direito e merecidamente, essas mulheres foram muito lembradas e homenageadas por várias autoridades do nosso estado nos últimos dias. Porém, um outro destaque, infelizmente negativo, em que o Estado de Rondônia lidera o Ranking com a maior taxa de feminicídios no Brasil, e também é líder em homicídios com vítimas mulheres, segundo o último Anuário de Segurança Pública. São 3,1 vítimas por 100 mil habitantes, mais que o dobro da média nacional. (Dados de 2023).
Enquanto nossas mulheres eram premiadas na 7ª edição do Concurso de Florada Premiada na Semana Internacional do Café (SIC), na sexta-feira, dia 22 de novembro em Belo Horizonte, aqui em Porto Velho, Daiana Gomes foi morta a tiros.
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Na contra-mão do sucesso das mulheres empreendedoras rondonienses, temos um assombroso tempo permeado por cárcere, tortura e morte de várias mulheres em nosso Estado. Entre o período de 15 a 25 de novembro, tivemos o registro de quatro mulheres assassinadas e duas crianças, além de diversos casos de tentativas de feminicídio a partir do uso de facas, torturas e até casa incendiada.
As vítimas desses casos assombrosos são mulheres jovens, mães e com certeza trabalhadoras, não diferentes das que estão em destaque no cultivo do café premiado em nosso Estado. Dentre as vítimas, destacamos o caso de Tereza Peterson, do município de São Francisco do Guaporé, de 45 anos, que foi encontrada ao lado do corpo de suas filhas: Ayla Maité, de 8 meses, e Ana Vitória, de 11 anos. Segundo a polícia, Tereza Peterson, de 45 anos, estava com as mãos amarradas e sinais de estrangulamento. Além disso, a criança de 11 anos apresentava um corte na garganta e o corpo do bebê, de 8 meses, foi encontrado em cima da cama.
Não menos importante temos os casos de Márcia Fátima de Oliveira, Luzia Pedra Vieira e Daiana Gomes Farias. A primeira foi vítima de assassinato por seu companheiro. Ele perfurou seu corpo com faca e o abandonou em uma calçada. Já Luzia, de 43 anos, foi morta pelo marido depois de uma discussão motivada por ciúmes, enquanto voltava de uma festa em Monte Negro e Daiana Gomes foi morta a tiros pelo ex-esposo de uma amiga na tentativa de protegê-la.
As mulheres produtoras de café merecem todas as homenagens e motivação para que mais mulheres ocupem os espaços de reconhecimento. Por outro lado, é de extrema urgência que, ao mesmo tempo que os holofotes estejam voltados ao brilho do sucesso dessas mulheres, ações e medidas urgentes de proteção a elas e a todas as mulheres de nosso Estado precisam ser igualmente priorizadas. É de fundamental importância e urgência que nossos parlamentares (federais e estaduais), dos novos prefeitos eleitos e os reeleitos, bem como do governo do estado, desenvolvam ações que venham frear e minimizar esse quadro estrondoso de violência contra as mulheres de nosso estado.
Umas das ações é inserir no orçamento dos entes federados recursos para implantação e implementação de políticas públicas voltadas para frear esse cenário de morte. É sabido que o governo do estado investiu 800 mil para a realização do Concafé e cerca de 400 mil para incentivar a participação dos produtores na SIC 2024. Porém, precisamos também de recursos nos orçamentos destinados exclusivamente para o combate a violência contra as nossas mulheres. Não queremos apenas comemorar a premiação da Florada Premiada do café rondoniense que já subiu no pódio por diversas vezes na semana internacional do café, mas, também atuar para a redução do feminicídio em nosso estado e a celebrar nossas vidas com o mesmo entusiasmo que celebramos as conquistas por nós alcançadas.
Fonte/Créditos: Por Fátima Ferreira, professora
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