
A escalada persistente nos preços dos alimentos deixou de ser um fenômeno atribuído unicamente a fatores globais e à inflação. De acordo com um recente relatório do Instituto de Pesquisa Urbana de Barcelona (IDRA), esse desafio está marcado por uma estrutura concentrada no sistema agroalimentar, controlado por grandes corporações.
Essas entidades buscam maximizar seus lucros, provocando, por sua vez, um aumento na precariedade laboral e na pobreza nutricional.

A alimentação representa o segundo maior gasto significativo para as famílias na zona metropolitana de Barcelona, logo atrás da moradia.
Além disso, o relatório chama a atenção para a tendência da “cheapflation”, onde os produtos mais baratos são os que mais aumentam seus preços, impactando especialmente as famílias com menos renda. Essas famílias, em busca de economia, acabam recorrendo a produtos mais acessíveis, embora não menos afetados pela inflação.
Como as estratégias corporativas influenciam o aumento de preços dos alimentos?
O IDRA atribui parte do problema às estratégias corporativas que intensificam o domínio sobre o mercado. A integração vertical é uma dessas estratégias, em que as empresas controlam cada etapa do processo, desde a produção até a distribuição.
Esse controle permite que as companhias exerçam uma influência significativa nos preços. A especulação financeira também desempenha um papel crucial, afetando não apenas a distribuição, mas também a produção dos alimentos.
Os mercados futuros permitem que grandes fundos de investimento condicionem o valor de matérias-primas essenciais como trigo ou açúcar, sem conexão direta com a produção real.
Quais propostas são sugeridas para recuperar o controle público do sistema alimentar?
O relatório do IDRA não se limita apenas à análise do problema, mas avança com várias propostas para recuperar o controle público do sistema alimentar.
Uma das principais recomendações é fortalecer as infraestruturas públicas de distribuição junto com a criação de planos e regulamentos específicos que favoreçam um maior acesso democrático aos alimentos.
Controlar os preços dos alimentos básicos por meio de um sistema de monitoramento público regular é uma das medidas fundamentais apoiadas pelos autores do relatório.
Leia também: Museu do Louvre revela valor estimado das joias roubadas
A importância de regular os mercados financeiros agrícolas
Outro aspecto crítico é a dignificação das condições laborais no setor agroalimentar. O IDRA sugere a implementação de políticas que regulem melhor as condições de trabalho, como a proibição da contratação na origem para trabalhadores temporários.
Além disso, recomenda-se uma reorientação de subsídios para uma Segurança Social Alimentar universal, entendendo a alimentação como um direito coletivo que demanda uma planejamento público e uma verdadeira soberania alimentar.
Uma das propostas mais importantes apresentadas pelo IDRA é a regulação dos mercados financeiros e de futuros agrícolas. Faz-se um chamado para intervir nesses aspectos que, ao longo dos anos, contribuíram significativamente para a volatilidade dos preços, sem refletir as condições reais do mercado.
Ao estabilizar e regular esses mercados, espera-se limitar os picos especulativos de preços e reduzir a desconexão entre o mercado financeiro e a realidade produtiva.
A alimentação, mais do que um simples ato de consumo, deve ser percebida e gerida como um direito coletivo, priorizando o bem-estar social sobre os interesses corporativos. Somente assim será possível avançar para um sistema mais equitativo e sustentável.
Fonte/Créditos: Redação O Antagonista
Créditos (Imagem de capa): Por que o preço da cesta básica cresce mais rápido que a inflação. Créditos: depositphotos.com / rafapress

Comentários: