Passou, acabou, bora botar marcha. Não tem mais mimimi, esquerdopata, minion, ódios de assustar Gaza, raivas, transtornos, foram aplacados pelo natural flur das coisas. Nunca fomos divididos em 100.000.000 de uns e 100.000.000 de outros, dispostos a matar ou morrer, de preferência começando pelo vizinho ou a cunhada. Assentadas as indignações, todas cobertas de suas próprias razões, vamos voltar às nossas velhas e boas pirraças, implicâncias, vamos voltar apenas a ser os que reconhecem o valor do trabalho dos motoboys da Juma, dos caixas do Itaú, a indispensabilidade da gata da praia e, vá lá, do contador gravatinha. Vamos dar a volta por cima, e falo do País.
⦁ O Brasil, antes de ter pulado essa fogueira, de ter deixado bem sapecado o topete do Pudim de Laranja e, mais importante, ter se saído sob aplausos, impecável, diante da ONU, OTAN, OMC e NAFTA, era e vai continuar sendo feito e dividido por outras, mais nobres, categorias de cidadãos, a saber: os motoristas de busão em Salvador, do tipo "zen-não-que-já-tô-na-neura", as manicures matracas-tricas a Leão Lobo e Marcos Mion tanto devem, o agronegócio de precisão.
⦁ Esqueceram que elas ainda nos fazem voejar, as etéreas comissárias de bordo-chefes da KLM, Delta, British Airways e da Azul? Bora registrar: seguem tocando o terror os mestres-de-obras de Belo Monte, a cada alvorada acordam com orvalho nos cílios os peões de boiadeiro de Coxipó, Poconé, Jataí, Itambé e Tangará. Permanece intacta a simpatia da "hostess"do Bara´Hotel em João Pessoa (o qual, aliás, informo, comprei ontem - depois me chama na bio...
⦁ Vamos celebrar a única brasileira a ganhar, como passou naqueles painéis gigantes da Times Square "e a coiózada moscaro e num viro", o inédito prêmio de melhor conteúdo infantil do Discovery Channel para a América Latina, e, por fim, porque agora é que vou começar a embaçar, vamos recordar a vitória hercúlea, formidável, inigualável daquele fera campeão do mundo de pingue-pongue. Na China, pô!
⦁ Vamos voltar a nos desorganizar como sempre. Mas com uma diferença brutal: nosso voto ano que vem finalmente vai valer ouro. Sobrevivemos à Covid política que foi o voto de cabresto mais acachapante da nossa História, contudo, peraí, deixa eu molhar o bico, e que também se constituiu, o dirá a História, numa votação que deu voz a um inconformismo engasgado, o qual, enquanto der, vai ter que receber respeito.
⦁ Há milhões de brasileiros que não concordam com a maneira como o Brasil é conduzido, e muitos se contam entre os próprios governistas. Vamos passar mertiolate na estupidez, fazer uma chatice dum exame de consciência e ter em mente uma coisa bem clara: cada deputado federal é dono de R$ 300.000.000,00 em emendas de liberação compulsória, obrigatória. Cada senador, quase R$ 1 bilhão. Pergunta na lata da cara deles: "Vai morder quanto, xelênssa?"
⦁ "Quem tu és para eu te dar um cheque em branco desses?" Sem esquecer das Assembleias Legislativas, da farra do Fundo Partidário, do orçamento secreto, dos cartões corporativos. Chega!
⦁ Aqui ninguém mais brinca de Playmobil. É só GTA e "The Last of Us", tiozão. A política enojou, irritou, fez chorar, talvez tenha matado, mas com certeza trouxe a cizânia a milhões de lares. Tudo não tem um lado ruim? Despache-o para o lixão. Candidato vai piar fino, companheiro, porque nós somos brasileiros de primeira.
⦁ E, antes que eu me esqueça, gaúchos, gays, cearenses, cabras-macho (ih, me lasquei...), mineiros, judeus, baianos, pessoal de Gibraltar, Mali, Tuvalu, todo mundo é bemvindo de volta, menos o Caniggia.
Fonte/Créditos: Carlos Assunção
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