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O Brasil — esse amontoado de esperança em forma de gente — saiu de casa neste domingo, com cartaz na mão e nó na garganta, pra dizer que não dá mais. Que a gente cansou. Que esse poder supremo que se acha dono da verdade, do tempo e da moral, esqueceu que quem manda, ou deveria mandar, somos nós, o povo. A voz que não tem toga, mas tem calo, boleto e saudade de um país que nunca foi, mas poderia ter sido.

Não é sobre golpe, nem sobre perdão. É sobre abuso. Sobre ver um juiz, com pose de messias, esfregando o poder na nossa cara como se a Constituição fosse espelho e não regra. Como se justiça fosse vingança com likes e manchete.

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Os cartazes com os rostos dos presos estão lá, na avenida. E não é idolatria — é desespero. É a última forma que o povo encontrou de gritar quando ninguém escuta mais. A anistia virou o nome do pedido de socorro de quem está sendo engolido por um Estado que finge proteger, mas pisa.

Tem quem diga que foi pouco, que é ridículo, que é antidemocrático. Como se democracia fosse um prato fino que só os bem-vestidos podem usar. Não é. Democracia é pra ser suja mesmo, barulhenta, contraditória. E neste domingo, ela vestiu camiseta, desceu pra Paulista e lembrou que liberdade não pode ser seletiva.

A elite intelectual vai torcer o nariz, claro. Vai chamar de ignorância o que, na verdade, é só cansaço. Mas não tem problema. O Brasil já aprendeu que o julgamento dos sabidos é só mais um tipo de prisão. E a gente quer liberdade — inclusive pra errar, pra protestar, pra se rebelar contra um STF que esqueceu que justiça sem equilíbrio é só mais um nome pra tirania.

Juliana Moreira Leite é jornalista especialista em cultura, escritora e curiosa. Nesse espaço vai falar sobre assuntos da atualidades sob a sua visão.