Não. Não sou médico. Mas não é preciso ser neurologista, ortopedista ou geriátrico, para pressupor que a queda do presidente Lula não foi nem será apenas um “simples acidente doméstico” sem qualquer repercussão.
Estou desejando mal à saúde do chefão petista? De jeito nenhum. Meus “maus” sentimentos por Lula restringem-se aos seus comportamentos políticos e ideológicos – e de sua turma. Minha análise aqui é literalmente empírica.
Passei muitos anos acompanhando – de perto – meus pais, que, infelizmente, tiveram velhices bem difíceis. Minha mãe, especialmente, piorou muito após uma queda doméstica, e com a mesma idade do presidente (78 anos).
Regra e exceção
Outros casos ocorridos próximos a mim me mostraram que não foi apenas com minha mãe o declínio acelerado da saúde após um tombo sério. Quem já passou, ou conviveu com isso, sabe muito bem do que estou falando.
Que Lula tenha melhor sorte e contrarie uma quase regra da vida, mas o corriqueiro indica que terá cada vez mais dificuldades físicas e cognitivas daqui em diante. Aliás, a queda, provavelmente, já é indicativa disso.
Tal fato é muito importante e deve ser analisado friamente, sem que a patrulha ideológica – ou mesmo silêncios temerosos – cale a voz de quem quer dissertar a respeito. Até porque, análise não é torcida. Ou desejo.
Eleições
Uma possível vindoura fragilidade da saúde do presidente mudará – se de fato isso ocorrer – radicalmente o tabuleiro eleitoral para 2026. Lula deixará de ser candidato para se tornar, no máximo, cabo eleitoral.
Particularmente, dados os resultados recentes das eleições municipais pelo Brasil, bem como a margem mínima de votos que lhe garantiu a vitória sobre Jair Bolsonaro, em 2022, creio ser mais forte nessa condição.
Um presidente em exercício – salvo se fizer muita besteira, como fez o próprio “mito” durante quatro anos – será sempre favorito à reeleição, mas a chamada “fadiga de material” do lulopetismo é real e bastante acentuada.
Cabo eleitoral
Abrindo mão de disputar a Presidência da República em prol de alguém com mais vitalidade – e menos rejeição -, Lula poderá ser visto como um verdadeiro estadista, e não como apenas mais um político mesquinho.
Assumindo a camisa de cabo eleitoral poderá, portanto, trazer mais votos para seu campo ideológico, fragilizando as candidaturas de direita que, ao que tudo indica, virão bastante fragmentadas daqui a dois anos.
Teremos, provavelmente, um bolsonarista raiz, um representante de direita e Pablo Marçal. Se Lula insistir em disputar as eleições – tendo saúde, é claro – correrá sério risco de perder no segundo turno (como Boulos corre atualmente).
Postes
Apoiando alguém mais ao centro, reunindo o campo progressista ao redor de um nome de consenso, Lula conseguirá, certamente, ser mais efetivo à causa da esquerda e até mesmo vencer (indiretamente) mais uma vez.
Quando apoiou Dilma Rousseff, venceu. Quando apoiou Fernando Haddad, levou-o para o segundo turno, onde conseguiu uma votação bastante expressiva. Ou seja, sem a bandeira “saúde” já é um cabo eleitoral muito forte.
O peso da idade é real. Para alguns mais, para outros menos. Joe Biden, recentemente, deu mostras inequívocas do que estou falando. E Lula não é diferente nem muito menos um super homem, ainda que acredite piamente no contrário.
Fonte/Créditos: Ricardo Kertzman
Créditos (Imagem de capa): Reprodução
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