Um dos episódios políticos mais infames de 2024 foi o bloqueio do X por Alexandre de Moraes (ao centro na foto) durante o primeiro turno da eleição municipal. O acesso à rede social do bilionário Elon Musk ficou bloqueado por decisão judicial durante 40 dias.
Quem não se incomodou com a decisão diz que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) não teve outra opção diante da negativa da plataforma de bloquear contas sob suas ordens.
Para afirmar isso, é preciso ignorar que foi Moraes quem conduziu o processo até ali, e de forma no mínimo heterodoxa, com determinações impostas sob sigilo e em procedimentos que confundiam o ministro do STF com o ex-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Bom para quem?
Após o X cumprir todas as determinações e pagar todas as multas milionárias — e depois de algumas idas e vindas protocolares (in)dignas do pior do Brasil cartorial —, Moraes ordenou o desbloqueio da rede social, que veio apenas depois do fim do primeiro turno da eleição municipal.
O que pôde ser postado no X ao longo dos últimos meses mostra um pouco do que o Brasil perdeu sem acesso à rede social onde o debate público se desenrola de forma mais explícita e aberta.
Enquanto fontes do TSE alardeavam por aí um balanço positivo sobre o uso (ou não uso) das redes sociais no primeiro turno, os eleitores não perdiam apenas a possibilidade de debater sobre em quem votar, mas também tiveram seu acesso limitado aos candidatos e a seus principais apoiadores.
Gleisi e companhia
O X é a rede social que se acostumou a corrigir a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR). Cada tentativa da deputada federal de empurrar para Roberto Campos Neto ou para o mercado financeiro a disparada do dólar foi confrontada pela comunidade da rede social.
Foi nessa plataforma também que a ministra da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, se aventurou a tentar justificar o déficit recorde das estatais no governo Lula, dizendo que isso “não significa prejuízo”, porque “parte desse valor é reflexo de investimentos estratégicos em áreas que geram retorno de longo prazo para o Brasil”.
A cirurgia de Lula
Esses são alguns dos exemplos em que Moraes protegeu os políticos de si mesmos. Mas o principal prejuízo da decisão do ministro, tomada, como todas, sempre em nome da democracia, foi o bloqueio à circulação de informações.
Foi por meio do X que especialistas questionaram as declarações de Roberto Kalil, médico de Lula, durante a crise de saúde em que o presidente teve de passar por uma operação de emergência.
O caso não era tão simples quanto o cardiologista dizia, e o próprio mesmo admitiu isso, mas apenas depois que o pior passou e o petista já tinha recebido alta hospitalar.
A “volta da sonhada democracia”
Muitos dos governadores também escolheram o X para confrontar, na semana passada, o decreto do governo Lula que tenta regular a força policial. “Sabem quem ganhou um presentão de Natal? A bandidagem”, protestou o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro.
E foi em postagem nessa mesma rede social que o ex-presidente Jair Bolsonaro expôs, no fim de semana, o plano de todo o mundo político já sabe, mas do qual não se fala tão abertamente: o domínio do Senado pela direita a partir de 2027.
“Com uma maioria de ‘Centro à Direita’ a certeza do equilíbrio entre os Poderes e a volta da sonhada democracia em 2027”, disse o ex-presidente, deixando implícito o plano de abrir um processo de impeachment contra um ministro do STF pela primeira vez.
Ouvir Bolsonaro falando em democracia após as relevações da trama para tentar permanecer no poder sem voto soa estranho, mas o mesmo se aplica a cada um dos controversos despachos de Moraes feitos em nome da República desde 2019, quando surgiu o interminável inquérito das fake news.
Fonte/Créditos: Rodolfo Borges / O Antagonista
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